23/04/2008

Drummond revirado

No meio do caminho metafórico
tem uma pedra de Drummond
em que sento e observo
aqueles que vão e vem achando que vão a algum lugar
e achando que devem chegar a algum lugar.

Se parassem de andar sobre metáforas
talvez chegassem em algum lugar
Mas saem de casa pela manhã
se ocupam de algum atividade durante o dia
e voltam à noite para casa
como não querem sentir que estão andando em círculos
e que estão sempre chegando ao mesmo lugar?

Mesmo andar sobre toda a Terra
já implicaria em andar em um grande círculo,
que dirá daqueles que andam em voltas
pela pacóvia cotidianidade metropolitana

Como não achar ordinário o que é da ordem
se as coisas de conectam e giram em harmonia
devidamente esquematizadas
para encher o oco das criaturas
com recheio de pelúcia taiwanense

O espetáculo está no pó que repousa na superfície
do grosso revestimento de poliuretano
que encerra a aflição dos corações
E é lá,
no universo microscópico na insignificância
onde estão os sonhos possíveis

Caminhantes consumidos e cansados
Pobrezinhos!
Já estão sorvendo a angústia
só de estar calcando a metáfora
como poderão, um dia
se lançarem venturosos
nesta selva desprovida de poliuretano?